Bom dia!

O Banco Central decidiu que o Drex seguirá viagem sem atravessar a ponte do blockchain. Não é um fim de linha, mas é a troca de uma estrada experimental por um asfalto conhecido. Para uns, sinal de pragmatismo: foco na entrega e no crédito tokenizado já em 2026. Para outros, perda de ambição e de um passo importante rumo a um sistema financeiro mais aberto e interoperável.

Enquanto isso, consórcios, startups e bancos reorganizam suas cartas. Sem a rede distribuída no centro do jogo, abre-se espaço para stablecoins privadas e soluções próprias ganharem protagonismo. A estrada segue, mas quem quiser cruzar o rio da tokenização pode ter que construir sua própria ponte.

Na Let’s Money de hoje:

  • Drex: BC tira blockchain da rota e mantém tokenização no mapa;

  • Open Finance: sistema completa cinco anos com 100 milhões de “sim”;

  • Tabuleiro da IA: GPT-5 e Claude Opus 4.1 mudam a disputa: não é mais sobre falar melhor, mas decidir e executar mais rápido.

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O Banco Central decidiu mudar o caminho, mas o destino continua o mesmo.

Na próxima fase do Drex, a blockchain sai de cena. O objetivo não mudou: permitir que ativos como ações, títulos e recebíveis sejam usados como garantia de crédito de forma mais simples, rápida e segura. Mas a “ponte” que ligaria o mundo físico ao tokenizado não será mais feita com blockchain. Pelo menos, não por agora. O recado do BC é claro: resolver o problema é mais importante do que se apaixonar pela solução.

Como destacou Claudia Mancini, do Blocknews, ao trocar a Hyperledger Besu por uma arquitetura centralizada, o BC aposta em algo mais previsível e estável para lançar em 2026, ainda que isso signifique adiar promessas como privacidade avançada, interoperabilidade e liquidação descentralizada.

“Vejo com preocupação e surpresa a notícia, pois agora não se sabe exatamente como ficarão os investimentos em infraestrutura das empresas do piloto. Espero que possa ser repensada em breve e talvez uma nova rede sirva de base já pensando em resolver os pilares de privacidade, interoperabilidade e padronização”, disse Regina Pedroso, da Abtoken, ao Blocknews.

A decisão já estava no ar

Para quem acompanhava de perto, não foi um raio em céu azul. O Drex já enfrentava atrasos nas soluções de privacidade e segurança — o pseudo-anonimato das redes públicas e permissionadas ainda não atende ao padrão de sigilo exigido para um sistema financeiro nacional. Tecnologias como zero-knowledge proofs e criptografia homomórfica avançam, mas ainda estão longe da maturidade necessária.

A mudança de presidência no BC, o recente mega-hack sofrido por órgãos públicos e até o exemplo dos EUA, que optaram por não criar rede própria e deixar o setor privado acelerar, pesaram na decisão.

Sem uma blockchain oficial, o BC abre espaço para que stablecoins lastreadas em real, redes privadas e consórcios independentes criem suas próprias “pontes” de tokenização. O paralelo com o Pix é inevitável: o BC deu o pontapé inicial, mas foi o mercado que multiplicou casos de uso. Agora, a diferença é que o setor privado pode se mover antes e, em alguns nichos, até mais rápido que o regulador.

Como lembra André Carneiro, CEO da BBChain: “O mercado de organização segue normal e vai muito além de liquidar. Podemos queimar os tokens e usar Pix para pagamentos, por exemplo.”

O maior baque será para empresas que apostaram exclusivamente na rede do Drex. Sem blockchain, some também a conexão com finanças descentralizadas e, com ela, parte do apelo original do projeto. Muita gente se dedicou à interoperabilidade entre redes públicas e a do Drex; agora será preciso buscar novas infraestruturas ou até redesenhar modelos de negócio.

Menos estrada provisória, mais preparo para o trem

Como observou Gustavo Cunha, insistir na rede permissionada do BC poderia significar construir uma “estrada provisória” que logo seria substituída por algo mais avançado. Ao mudar o foco para regras e padrões, o BC pode estar preparando o terreno para, no futuro, migrar direto para redes públicas maduras, com interoperabilidade global e liquidez ampliada.

Até lá, a meta é pragmática: fazer a tokenização acontecer no dia a dia. E isso significa que, agora, cabe ao mercado construir suas próprias travessias, algumas talvez mais rápidas e mais adaptadas do que aquela ponte que o regulador tirou do mapa.

🚀 Beyond Banking, na prática
No dia 20 de agosto, às 15h, o Iniciador promove um workshop online e gratuito para mostrar como a integração bancária está mudando o jogo no setor financeiro.

No palco virtual: Luiz Ramalho (Magie), Bruno Diniz (Open Finance Brasil) e mediação de Gustavo Bresler (Iniciador).

O papo vai além do core bancário: experiências integradas, colaboração entre players e casos reais que mostram como inovar no novo ecossistema financeiro. Inscreva-se aqui

O que você precisa saber do Mundo 🌍

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Open Finance: 100 milhões de “sim”

Cinco anos atrás, o Open Finance brasileiro estreava cercado de expectativas e também de dúvidas sobre sua adoção. Hoje, o sistema coleciona números que o colocam entre “os maiores casos de sucesso do mundo”, como definiu Mardilson Queiroz, chefe do Departamento de Regulação do Sistema Financeiro do Banco Central, durante a LiveBC nesta segunda-feira (11). 

São 100 milhões de autorizações de compartilhamento de dados, 65 milhões de contas conectadas, uma média de 4 bilhões de chamadas de API por semana e quase 5 milhões de pagamentos mensais feitos sem que o usuário precise sair do app do seu banco para puxar dinheiro de outra instituição, movimentando cerca de R$ 1,2 bilhão por mês só nesse nicho.

“O que temos hoje é um ecossistema que, além de seguro e padronizado, já entrega conveniência e personalização na veia. O cliente pode, por exemplo, parametrizar gatilhos para investir automaticamente acima de determinado saldo ou cobrir saldo negativo em outro banco de forma automática”, disse Queiroz.

Do hype à prática

O Open Finance deixou de ser uma promessa para se tornar parte do cotidiano. O consumidor já pode visualizar contas e investimentos de diferentes instituições em um único app, viabilizar portabilidade de crédito de forma mais ágil e receber ofertas mais ajustadas ao seu perfil. Além disso, o sistema permitiu Pix por aproximação em lojas físicas e pagamentos recorrentes diretamente integrados ao e-commerce.

“A expectativa era de uma adoção mais lenta, porque é um ecossistema complexo. Mas cresceu muito mais rápido do que imaginávamos”, avaliou Queiroz.

Se para a pessoa física o avanço é visível, nas empresas ainda há espaço a conquistar. Apenas 5% das contas conectadas são de pessoas jurídicas, em parte por conta da complexidade das autorizações e múltiplos decisores. Mas o BC vê alto potencial, inclusive para negócios endividados.

“Ao compartilhar seus dados, a empresa consegue mostrar seu histórico, fontes de receita e viabilidade econômica de forma muito mais clara para potenciais credores”, afirmou.

O próximo nível

Os impactos sobre a competição bancária ainda são difíceis de medir em escala macro, mas já é possível identificar tendências. Bancos digitais têm se apropriado mais rapidamente do Open Finance para ganhar market share, enquanto grandes instituições avançam de forma mais gradual, mas começam a mostrar resultados. “O movimento dos digitais força os tradicionais a reagir. Isso estimula a competição e, no final, beneficia o cliente”, disse Queiroz.

Para os próximos dois anos, o Banco Central quer ampliar a agenda: portabilidade de crédito e salário, marketplace de crédito, integração com outros sistemas do BC e conexão com setores fora do universo financeiro, como habitação, turismo e hospitalidade. “A visão é ter o cliente no controle, com plataformas que conectam o sistema financeiro à economia real. É uma questão de tempo até alcançarmos essa escala”, completou.

📩 Perdeu? A gente te lembra!

No domingo — e ainda por cima Dia dos Pais — mandamos para os leitores da Let's Money uma super matéria sobre o Pix Parcelado.
Chamamos de "O fiado digital" e mergulhamos em tudo: da regulação do Banco Central à disputa com o cartão de crédito, passando por números de mercado, impacto no crédito e o que esperar para o lançamento oficial.

Se você deixou passar no meio do churrasco e das homenagens, vale demais conferir agora. É leitura para entender não só o como funciona, mas o porquê dessa nova forma de pagar pode mudar o jogo.

AI

Bem-vindo ao novo tabuleiro da IA

O novo tabuleiro da inteligência artificial está montado. E as peças mais poderosas já estão em jogo. A OpenAI lançou o GPT-5, resposta direta à Anthropic e seu Claude Opus 4.1. A disputa não é mais sobre quem “fala” melhor, mas sobre quem toma decisões mais rápidas, seguras e lucrativas.

Só que, dessa vez, não é um movimento isolado: é uma jogada de contra-ataque. A Anthropic tinha acabado de mexer seu cavalo — lançando o Claude Opus com foco total em raciocínio, codificação e automação — e deixando a OpenAI numa clara posição de reagir. Agora, ambas colocam seus “reis” no centro do tabuleiro e testam quem controla mais casas.

O movimento da OpenAI vai além da melhoria técnica: é um reposicionamento na corrida pelo controle de como empresas e consumidores interagem com a IA. A Anthropic, por sua vez, quer deixar claro que não joga para a plateia, e sim para o mercado corporativo — especialmente o técnico, onde precisão vale mais do que charme. Para bancos e fintechs, o jogo está ficando mais apertado e muito mais caro de perder.

Da retórica à execução

Até aqui, muita IA no setor financeiro ficou restrita a atendimento e automação de relatórios. O GPT-5 e o Claude inauguram outra fase: a dos agentes que planejam, executam e aprendem com o resultado. A diferença é que, agora, o “peão” pode virar “rainha” em poucas jogadas — encurtando processos críticos como análise de risco, prevenção a fraudes e concessão de crédito.

🏦 O xeque-mate das instituições financeiras

Quando a IA consegue entender contexto regulatório, integrar dados transacionais e agir com baixo índice de erro, quem garante que o cliente vai continuar interagindo com o app do seu banco ou fintech e não diretamente com um assistente digital que resolve tudo? O risco é ver o cliente transferir a confiança que tinha na marca para o “cérebro” que entrega valor imediato. Controlar a peça central do jogo (a camada de IA) passa a ser tão importante quanto controlar o produto financeiro.

📊 Quem define as regras, define o placar

O GPT-5 chega grátis para o público, mas com camadas premium e corporativas que entregam mais raciocínio e integração. A Anthropic mantém foco no modelo pago, posicionando-o como ferramenta de elite para empresas que exigem confiabilidade extrema. As fintechs que ficarem só com a “versão aberta” jogam com regras limitadas, enquanto concorrentes que investirem na integração profunda terão acesso a dados mais ricos, respostas mais confiáveis e vantagem estratégica.

Entrevista

MODERNIZAÇÃO DE PAGAMENTOS - LET’S MONEY - #003

Nos vemos na próxima edição!

Agora todas às terças.

Abraços,

Equipe Let’s Money

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