Bom dia!
Se Warren Buffett é chamado de “oráculo de Omaha” por antecipar movimentos de mercado, agora surge um novo tipo de oráculo — menos focado em investimentos e mais voltado ao bolso do dia a dia. Desta vez, ele atende por Claude, modelo de IA da Anthropic que começa a transformar dados bancários em diálogo e é a novidade do banco norte-americano Grasshopper Bank.
Na Let’s Money de hoje:
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🔮 O Oráculo das Finanças – O Grasshopper Bank lança recurso que permite consultar seus dados em linguagem natural com o Claude.
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🚪 A porta que a Visa fechou – A gigante dos pagamentos abandona o open banking nos EUA e concentra esforços na Europa e América Latina.
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🎙️ Quando o Pix ganhar voz – O Bradesco testa pagamentos por comando de voz com a BIA, sua assistente virtual.
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🧿 O Oráculo das Finanças
Se Warren Buffett é chamado de “oráculo de Omaha” por antecipar movimentos de mercado, agora surge outro tipo de oráculo — menos focado em investimentos e mais voltado ao bolso do dia a dia. Só que, neste caso, ele atende por um nome improvável: Claude. Ou, para os íntimos, Claudinho.
Arte: Abílio Sousa | Dir Arte Let’s Media
Do extrato ao oráculo
O Grasshopper Bank se tornou o primeiro banco dos EUA a permitir que seus clientes consultem seus próprios dados por meio de uma IA generativa. Em vez de extratos e planilhas, o usuário pergunta em linguagem natural: “Tenho caixa para contratar mais gente?” ou “Posso separar US$ 500 por mês sem comprometer meu orçamento?”.
O Claude, modelo da Anthropic, responde com base nos dados financeiros do cliente, transformando o que antes era uma planilha fria em diálogo interativo. É a transição do extrato para o insight. O banco deixa de ser guardião de informações e passa a atuar como intérprete — ou, melhor, como um oráculo financeiro.
Entre confiança e ceticismo
Mas será que as pessoas confiarão mais no Claudinho do que em suas próprias planilhas, CFOs ou consultores? A questão não é apenas de acurácia, mas de experiência de uso. Assim como aprendemos a fazer boas perguntas ao Google, os bancos precisarão ensinar seus clientes a conversar com seus dados sem cair em armadilhas de interpretação.
Especialistas já sugerem a criação de “catálogos de prompts”: bibliotecas de perguntas testadas que garantam respostas úteis. Sem isso, o oráculo pode acabar virando mais um enigma do que uma solução.
Teremos no Brasil?
No Brasil, nenhum grande banco ainda ousou oferecer algo parecido. A prioridade por aqui segue em torno do Pix, do Open Finance e de temas regulatórios mais imediatos. Mas a provocação é clara: quando o primeiro banco brasileiro der esse passo, todos os outros terão de segui-lo.
E se hoje já usamos Open Finance sem perceber — ao pagar via Google Pay ou movimentar saldos entre contas com Pix automático —, o salto para um oráculo financeiro não parece tão distante.
O que está em jogo
O “oráculo das finanças” representa um novo paradigma: sair do modelo em que o banco apenas mostra números e entrar em outro, no qual ajuda a interpretá-los. É a diferença entre entregar o tabuleiro e ensinar a jogar.
Para o Grasshopper, isso é pioneirismo. Para o sistema financeiro global, é uma faísca de uma tendência que pode redefinir a relação entre cliente e banco: menos gerente, mais oráculo.
Se os clientes já chamam Buffett de oráculo por prever o futuro dos investimentos, daqui a pouco estarão chamando seus próprios apps bancários de que? Fica a pergunta…
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A porta que a Visa fechou
Nos EUA, a promessa do open banking começou como uma estrada aberta, mas hoje parece mais com um pedágio em construção. A Visa, que há cinco anos tentou comprar a Plaid para dominar esse território, acaba de desistir do jogo americano. O motivo? Reguladores que andam devagar, bancos que querem cobrar pelo acesso a dados e uma briga para decidir quem é dono da chave do cofre.
Foto: Reprodução
Dados não são de graça
O CFPB (Consumer Financial Protection Bureau) tenta garantir que os dados bancários pertencem ao consumidor — e não aos bancos. Mas gigantes como o JPMorgan já ensaiam cobrar centenas de milhões de dólares pelo acesso às suas APIs. Para fintechs que vivem de personalização, crédito alternativo e gestão financeira, é como tentar correr uma maratona com pedágios a cada quilômetro.
A saída pela lateral
Enquanto os EUA travam, a Visa mira onde a pista está mais livre: Europa e América Latina. Na Europa, a PSD2 já deu clareza regulatória e criou uma base sólida para integrações. No Brasil, o Open Finance já conecta 65 milhões de contas e processa 4 bilhões de chamadas semanais entre instituições. É um ecossistema vivo, ainda em amadurecimento, mas com energia para expandir.
O que isso diz para nós
A saída da Visa expõe uma verdade incômoda: dados valem dinheiro — e quem controla o acesso dita as regras. Nos EUA, a disputa pelo controle emperrou o avanço. No Brasil, o risco de um pedágio semelhante existe, mas o modelo até aqui foi mais colaborativo, com o Banco Central como maestro.
Seja como for, a mensagem da Visa é clara: quando a estrada fica travada, vale mais buscar caminhos alternativos do que insistir em cruzar o congestionamento.
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Quando o Pix ganhar voz
O Bradesco resolveu que não basta digitar: agora quer que você apenas diga “Pix” e a BIA faça o resto. O banco testa com 2 mil usuários internos a primeira versão do pagamento por comando de voz — um passo que pode transformar sua assistente virtual de informativa em transacional.
Foto: Reprodução / Bradesco
Da FAQ ao “faça por mim”
Até aqui, a BIA funcionava como um manual falante: respondia dúvidas, explicava produtos, ajudava no básico. Com o Pix por voz, o Bradesco começa a empurrá-la para o próximo nível — a de agente ativa, capaz de executar tarefas em nome do usuário. É o salto de ser um chatbot que informa para um copiloto que resolve.
“Agêntica” é a palavra usada pelo banco: inteligência que não apenas entende o que você fala, mas que age. O Pix é a primeira peça, mas a lógica abre espaço para transferências, pagamentos, investimentos — tudo narrado em tempo real.
Segurança: a linha tênue
A fluidez de dizer “paga fulano” é também o prato cheio para golpes de engenharia social. O Bradesco reconhece o risco: a BIA é conhecida, acessível e pode ser explorada. O desafio está em equilibrar experiência e segurança, criando mecanismos de autenticação robustos sem quebrar a naturalidade da voz.
Michel Fernandes, superintendente de inteligência de dados do banco, deixou claro no evento Super Bots Experience: a batalha não é só tecnológica, mas de confiança.
O que vem depois
Hoje, o banco já roda 11 mil modelos de IA em sua infraestrutura interna, com o orquestrador Bridge. A ideia é abrir caminho para que cada área crie seus próprios agentes inteligentes. O Pix por voz é só a ponta do iceberg: a próxima fronteira do setor será disputar a entonação do cliente.
Na era dos aplicativos, ganharam quem simplificou a experiência. Na era da voz, vai ganhar quem convencer o cliente a confiar em uma frase curta para mover seu dinheiro.
Entrevista
CRISTIANY WAGNER DO BRADESCO – LET’S MONEY
Nos vemos na próxima edição!
Agora todas às terças.
Abraços,
Equipe Let’s Money