
Bom dia!
Brasília virou palco para comemorar os 5 anos do Open Finance. O Banco Central chamou de “revolução silenciosa”. Silenciosa pra quem? Com mais de 100 milhões de consentimentos e bilhões de chamadas de API por semana, o sistema já faz barulho suficiente para mudar a rotina financeira do país.
A Let’s Money esteve lá, acompanhou os painéis, conversou com executivos e trouxe os bastidores de como o futuro aberto das finanças não é mais promessa — é prática. O desafio agora é simples: entender se você já está dentro desse jogo… ou ainda olhando de fora.
Na Let’s Money de hoje:
📊 Open Finance 5 anos — As falas de Galípolo e a visão dos painéis como o sistema deixou de ser promessa e virou espinha dorsal do mercado.
🛠️ Da construção à qualidade — Matheus Rauber (BC) e Marcelo Martins (Iniciador) analisam o percurso e projetam os próximos passos.
🏦 Do piloto ao produto — Filipe Damian Préve (Banco do Brasil) explica como o Open Finance deixou de ser estratégia paralela e passou a sustentar casos de uso de peso.
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O palco invisível das finanças.
A transformação do sistema financeiro brasileiro acontece em silêncio — quase como uma peça encenada em um palco invisível. O espetáculo está em cartaz há cinco anos, e os atores já movem cifras bilionárias. No auditório lotado do Banco Central, em Brasília, com representantes de bancos, fintechs e cooperativas, o evento “Open Finance 5 anos: Conectando o Futuro” mostrou que a infraestrutura deixou de ser promessa para se tornar espinha dorsal das finanças no Brasil.

Arte: Abílio Sousa | Dir Arte Let’s Media
O presidente do BC, Gabriel Galípolo, foi direto: “O futuro das finanças já começou. E ele é aberto, inteligente e centrado no cidadão.” Não é apenas retórica. São mais de 100 milhões de consentimentos ativos, 70 milhões de contas conectadas e uma média de 4 bilhões de chamadas de API por semana. Em julho, o volume de iniciações de pagamento superou R$ 1 bilhão. Para efeito de comparação, o Reino Unido — pioneiro no tema — contabiliza cerca de 15 bilhões de chamadas ao ano. O Brasil já deixou de ser seguidor para virar referência global.
A participação do Gabriel Galípolo foi feita por vídeo | Foto: Abner Garcia / Let’s Money
A revolução silenciosa
Na abertura, Mardilson Queiroz, chefe do Departamento de Regulação, definiu o Open Finance como uma “revolução silenciosa”. Silenciosa porque roda nos bastidores — quando alguém usa o Pix via Google Pay sem perceber que, por trás, está toda a engrenagem do compartilhamento de dados. Mas nem por isso menos transformadora: a lógica agora é de inclusão, autonomia e escolha. O consumidor pode levar seu histórico para onde quiser, quebrando a fidelidade forçada aos bancos de origem.
Painel de abertura do evento | Foto: Abner Garcia / Let’s Money
Gilneu Vivan, diretor de Regulação, destacou que o marco regulatório e o modelo de autorregulação deram musculatura para esse crescimento. Aílton de Aquino, diretor de Fiscalização, lembrou que segurança cibernética e inteligência humana no BC são cruciais para manter a confiança.
Casos de uso: quando o palco ganha forma
No painel de casos de uso ficou evidente que a peça já tem atos concretos:
Google Pay mostrou como o Open Finance viabilizou Pix por aproximação e integração nativa em apps;
Banco do Brasil destacou que ofertas feitas com dados do Open Finance convertem o dobro das tradicionais;
Iniciador apresentou pagamentos inteligentes via Pix automático, biometria e até mensageria;
Nubank exibiu insights que ajudam clientes a economizar milhões em juros de cheque especial;
Sicredi mostrou como cooperativas usam dados para personalizar relacionamento e fidelizar associados.
Cada exemplo reforça a tese de que o Open Finance não é um produto — é uma infraestrutura invisível que viabiliza experiências mais fluidas e decisões financeiras mais inteligentes.
Painel dos casos de uso | Foto: Abner Garcia / Let’s Money
A costura coletiva
A Ana Carla Abrão, presidente da Associação Open Finance, lembrou que o sucesso do ecossistema brasileiro não veio de um único ator: “Foi uma construção coletiva, com diversidade de participantes e estabilidade institucional do Banco Central. O desafio agora é comunicação: fazer com que o cidadão entenda que o Open Finance não é um produto, mas uma infraestrutura que já gera valor para sua vida financeira.”
A fala ecoa a visão de que o futuro não será imposto, mas consentido. O poder já está nas mãos do cliente — o que falta é clareza sobre por que e como usar.
O que vem pela frente
O próximo capítulo já está em ensaio: a portabilidade de crédito, que promete reduzir burocracia e abrir espaço para taxas mais competitivas. Mas também há a integração com IA, a plataformização de serviços e a entrada de novos reguladores no jogo.
Na última semana, em meio ao evento de comemoração, a instituição reuniu seus conselheiros para um planejamento estratégico dos próximos cinco anos do Open Finance no Brasil.

Marcelo Martins, do Iniciador, participou do planejamento estratégico | Foto: Arquivo Pessoal
Os próximos cinco anos dirão se o Open Finance continuará sendo um palco invisível ou se finalmente ganhará holofotes junto ao consumidor. Por enquanto, o espetáculo segue em cartaz — e o Brasil está na primeira fila do mundo.

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Cinco anos depois: o Open Finance sob a lupa do regulador
Se o evento em Brasília serviu como palco de celebração, para o Banco Central ele também foi momento de balanço. Matheus Rauber, do Departamento de Regulação do BC, acompanhou de perto desde os primeiros rascunhos das especificações até a consolidação da governança atual. O saldo? Um ecossistema que deu trabalho para nascer, mas hoje é referência global.
Matheus Rauber concedeu entrevista exclusiva à Let’s | Foto: Abner Garcia / Let’s Money
Do trabalho árduo à referência internacional
“Deu muito trabalho desde o princípio, mesmo antes da regulamentação inicial. A gente já veio conversando muito com o mercado, acompanhando a implementação, as primeiras especificações, as primeiras APIs. Todo mundo foi aprendendo junto: Banco Central, instituições e a própria estrutura”, contou Rauber.
Esse processo culminou em uma governança mais robusta, com presidentes e diretores próprios, e um quadro mais profissional e independente. Para o executivo, essa consolidação dá solidez às discussões e garante o próximo salto.
“O Brasil é referência em termos de ecossistemas Open. Começamos com Open Banking, hoje é Open Finance. Compartilhamos nossa experiência com outros países, e é muito positivo olhar para trás e ver o quanto avançamos”, disse.
O que vem pela frente
Se os primeiros cinco anos foram de construção, os próximos devem ser de maturidade e integração. O BC aposta em:
Melhoria da performance e qualidade dos dados: monitoramento contínuo deve elevar o nível das instituições participantes.
Integração de dados com pagamentos e crédito: além do que já existe, a portabilidade de crédito e de investimentos aparece no radar.
Fomento à inovação: o papel do regulador é criar as condições para que instituições construam produtos inéditos, sem ditar exatamente quais.
“É difícil prever o futuro, mas o objetivo é dar às instituições um leque de funcionalidades para que inovem. O Open Finance tem que ser motor de inovação, não apenas uma obrigação regulatória”, resumiu Rauber.
Entre celebração e responsabilidade
A satisfação do regulador é visível. Rauber destacou que o evento reuniu quase 400 pessoas, a maioria vinda de São Paulo, que participaram da construção do ecossistema. “Foi muito trabalho, mas hoje é uma grande satisfação. O balanço é positivo e mostra que valeu a pena”, disse.
O recado, no fim, é duplo: o Brasil construiu um case mundial em Open Finance, mas manter essa posição exigirá mais do que festa. Vai exigir performance, dados de qualidade e, sobretudo, inovação constante.

NÚMERO
Duplicata escritural e BaaS são as principais apostas dos bancos

De acordo com o "Panorama da Inovação no Sistema Financeiro", levantamento da Associação Brasileira de Bancos (ABBC) e da consultoria Bip, Duplicata Escritural e BaaS são, atualmente, os principais vetores de novas oportunidades de negócio para os bancos no Brasil.

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Do zero ao “Open de tudo”
Se os primeiros cinco anos foram de levantar os alicerces, o próximo ciclo do Open Finance brasileiro é sobre deixar a casa pronta para receber visitas. Para Marcelo Martins, CEO do Iniciador, a fase inicial foi de pura construção — “muita coisa do zero” — mas já deixou marcas concretas na vida financeira do brasileiro.
Marcelo Martins concedeu entrevista exclusiva à Let’s | Foto: Abner Garcia / Let’s Money
“Casos como Núclea, Magie, Stone e Nomad mostram como o Open Finance já está entrando no cotidiano. Agora o desafio é qualidade: dados melhores, pagamentos com maior conversão e novas funcionalidades como a portabilidade de salário e de crédito”, disse ao Let’s Money.
O Brasil já é o maior — e ainda só começou
Os números dão a dimensão: mais de 70 milhões de contas conectadas, 1 bilhão de reais por mês em iniciações de pagamento e cerca de 4 bilhões de chamadas de API por semana. Para efeito de comparação, o Reino Unido — pioneiro no tema — soma entre 14 e 15 bilhões de chamadas em um ano inteiro.
“Quando olhamos para isso, já dá para dizer que o Brasil é o maior Open Finance do mundo. E mesmo assim, ainda estamos só no começo”, afirmou Marcelo.
O futuro: do Open Finance ao “Open de tudo”
A visão dele é de longo prazo: consolidar qualidade e ampliar funcionalidades para que, em 5, 10 ou 15 anos, o Brasil possa evoluir para um Open Everything. A infraestrutura financeira aberta seria apenas o ponto de partida para integrações mais amplas, atravessando crédito, investimentos, consumo e até setores não financeiros.
“A gente construiu. Agora é deixar redondo e seguir ampliando. O potencial é enorme — tanto em alcance da população quanto em volume transacional. O caminho é só para cima”, resume o executivo.

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Quando o Open Finance entra na sala do gerente
Se nos primeiros anos o Open Finance parecia uma “estratégia paralela”, hoje ele começa a se confundir com o próprio core bancário. Para Filipe Damian Préve, Head de Open Finance e BaaS no Banco do Brasil, o segredo foi simples: não deixar o tema isolado.
Filipe, do Banco do Brasil, concedeu entrevista à Let’s | Foto: Abner Garcia / Let’s Money
“O Open Finance não pode ter uma estratégia por si só. Ele precisa ser absorvido pelas áreas de clientes, produtos e canais. Só assim ele deixa de ser demonstração e vira algo sustentável”, disse à Let’s Money.
Do piloto ao produto
O BB já colocou parte dessa lógica em prática no “Minhas Finanças”, que reúne casos de uso construídos sobre dados abertos. O destaque é a portabilidade de crédito pessoa física, que movimentou R$ 2,1 bilhões até agora.
Mais do que números, o caso mostra o poder da integração: a oferta está disponível em agências, WhatsApp e app, com índice de aceitação perto de 90%. O segredo, segundo Filipe, é contexto: uma proposta feita no momento e no canal certos.
Do consentimento ao uso real
O próximo ciclo, para ele, é de maturidade. A régua de sucesso já não é mais medir consentimentos, mas clientes ativos, volume em reais e uso efetivo de ferramentas de gestão financeira.
“O Open Finance está finalmente entrando no dia a dia das pessoas. Antes eu era chamado para falar de aplicativo do banco, agora respondo perguntas da família sobre consentimento e LGPD”, brincou.
O futuro: crescimento orgânico
A expectativa é de um crescimento mais sustentável e menos dependente de marketing. A usabilidade puxará a adoção em massa, como aconteceu com o Pix. E, no horizonte, novas ondas como portabilidade de salário e o Drex devem ampliar ainda mais o espaço do Open Finance na vida financeira dos brasileiros.

Entrevista
BRUNO LOIOLA DA PLUGGY - LET’S MONEY - #012

Nos vemos na próxima edição!
Agora todas às terças.
Abraços,
Equipe Let’s Money
