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O Banco Central vai desligar a infraestrutura que sustentava o Drex — o projeto do Real Digital. A decisão expõe o primeiro tropeço técnico da moeda digital brasileira e mostra que o desafio nunca foi apenas regulatório, mas estrutural.
Com falhas de privacidade detectadas na blockchain Hyperledger Besu, o BC precisará escolher uma nova base tecnológica antes de retomar os testes. O plano de digitalização do dinheiro, antes visto como símbolo de vanguarda, agora enfrenta uma pausa incômoda e um questionamento inevitável: o Brasil foi rápido demais em tentar reinventar o real?
Na Let’s Money de hoje:
- 💰 Drex trava antes de rodar: BC desliga a infraestrutura do Drex após falhas de privacidade; próxima fase começará do zero em 2026.
- 💸Pix Parcelado sob vigilância: Banco Central quer proibir o “rotativo do Pix” e impor regras mais duras de crédito e transparência.
- 🕵️♂️ O cartel dos cartões: Golpe bilionário atinge 193 países e revela que o crime financeiro já opera em escala global.
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O BC desligou a base do Real Digital e vai recomeçar o projeto do Drex do zero
O futuro do dinheiro brasileiro acabou de travar. Após quatro anos de desenvolvimento, o Banco Central decidiu desligar a infraestrutura que sustentava o Drex — a Hyperledger Besu, blockchain escolhida como base para os testes do Real Digital. O motivo é técnico, mas o impacto é político: o sistema não garantiu o nível de privacidade e segurança exigido. O BC, então, apertou o botão vermelho.
A decisão encerra a fase 2 do projeto e joga a fase 3, prevista para 2026, de volta à prancheta. Agora, a autoridade monetária precisará escolher uma nova tecnologia, redesenhar a arquitetura e repensar o próprio conceito de moeda digital nacional.
O bug do Real Digital
O Drex nasceu com uma promessa ambiciosa: unir a robustez do sistema bancário à flexibilidade das blockchains. Mas, quando a teoria encontrou o código, vieram as limitações: problemas de confidencialidade, falhas de interoperabilidade e dúvidas sobre até que ponto uma blockchain pública pode comportar o sigilo bancário.
O modelo escolhido para os testes, que combinava transparência e controle de acesso, acabou criando o pior dos dois mundos: um sistema nem totalmente público, nem verdadeiramente seguro. O BC viu o risco e decidiu recomeçar antes que o problema ganhasse escala.
Entre o hype e o reboot
O desligamento da plataforma não encerra o Drex, mas força o Banco Central a encarar uma questão mais profunda: é possível criar um sistema financeiro digital sem comprometer o princípio da soberania?
A resposta, por enquanto, é um novo começo. O BC promete seguir com o projeto, mas com menos hype e mais engenharia. A lição é clara: a disrupção financeira não acontece por decreto, e até a autoridade monetária mais elogiada do mundo precisa lidar com o inevitável — a frustração do primeiro bug.
Se o Drex é o futuro do dinheiro, o Brasil acaba de descobrir que o futuro também trava.

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BC quer desligar o rotativo antes que o Pix acenda

O Banco Central parece disposto a cortar o mal pela raiz. Antes mesmo do Pix Parcelado chegar oficialmente ao mercado, o regulador quer impedir que ele herde o principal defeito do cartão de crédito: o rotativo. A proposta em discussão inclui bloquear novas ofertas a usuários com parcelas em atraso e proibir o acúmulo de dívidas entre diferentes instituições, uma espécie de “modo hard” do crédito instantâneo.
Segundo Breno Lobo, do Departamento de Competição e Estrutura de Mercado Financeiro, a ideia é simples: não deixar o Pix virar o novo símbolo do endividamento em massa. O BC quer transparência total nas condições de oferta — taxa de juros, IOF e CET em destaque, nada de letras miúdas.
O freio de mão do crédito digital
O movimento mostra que o BC tenta equilibrar a equação entre inovação e prudência. Depois de anos de avanço vertiginoso do Pix, a autoridade quer garantir que o próximo passo, o parcelamento, não descambe para o descontrole financeiro. A lógica é quase pedagógica: quem não quitou o anterior, não contrata o próximo.
As instituições, por sua vez, terão que repensar o design dos produtos, ajustando sistemas, UX e políticas de risco. Se o Pix Parcelado prometia agilidade e inclusão, a nova fase vai exigir responsabilidade.
O preço da transparência
As futuras regras também reforçam a guerra contra o crédito obscuro. A exigência de que o tamanho da fonte dos juros seja igual ao da parcela contratada parece detalhe, mas é recado: a era das “letrinhas miúdas” acabou.
Para o BC, o Pix Parcelado só fará sentido se entregar crédito competitivo, claro e controlável. Para o mercado, o desafio é outro, o de provar que inovação financeira pode vir com segurança embutida, e não com juros escondidos.
Se o Pix foi a faísca que acendeu o sistema financeiro, o BC agora quer garantir que o rotativo não seja o curto-circuito.

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O cartel dos cartões

A “Operação Chargeback” desmantelou três redes criminosas que operavam como uma verdadeira fintech do submundo. Entre 2016 e 2021, elas clonaram dados de cartões, criaram 19 milhões de assinaturas falsas e movimentaram mais de € 300 milhões em transações digitais disfarçadas de mensalidades de streaming, encontros e sites adultos. O truque era simples: valores baixos, descrições genéricas e conivência de parte dos prestadores de serviço de pagamento. Quatro PSPs alemães teriam processado as transações fraudulentas sem levantar bandeira. Resultado: 4,3 milhões de vítimas em 193 países e uma lição amarga sobre a fragilidade da infraestrutura global de pagamentos.
O golpe não foi apenas técnico, foi institucional. Mostrou que compliance fragmentado é o calcanhar de Aquiles do sistema financeiro moderno. Mesmo com padrões internacionais e algoritmos antifraude, o elo mais fraco segue humano e, muitas vezes, interno. A cooperação entre Alemanha, Europol e Eurojust resultou em 18 prisões e apreensão de € 35 milhões, mas o dano já havia atravessado fronteiras. O sistema financeiro, ao que parece, ainda é global apenas na vulnerabilidade.
O caso revela um novo estágio da criminalidade digital: o crime-as-a-service. Redes organizadas agora operam como startups — com divisão de tarefas, infraestrutura própria e modelos de escala. Enquanto bancos e fintechs discutem sandbox regulatória, os golpistas já rodam em “produção”. A lição é direta: não existe inovação financeira sem resiliência. E quem acha que segurança é custo, ainda não calculou o preço de um colapso global.

Entrevista
Nos vemos na próxima edição!
Agora todas às terças.
Abraços,
Equipe Let’s Money