Arte: Abílio Sousa | Dir Arte Let’s Media
Arte: Abílio Sousa | Dir Arte Let’s Media

Bom dia!

O Pix completa cinco anos e, para além da festa, o marco revela a dimensão da revolução que o Brasil construiu. Um sistema que nasceu sob ceticismo virou infraestrutura nacional, incluiu milhões, barateou o custo do dinheiro e se tornou padrão de fato no país. Nesta edição, destrinchamos o legado do Pix, seus acertos técnicos, a virada cultural e os desafios da próxima fase.

Entrevistados no Let’s Money Podcast, Ana Carla Abrão e Marcelo Martins também estarão na edição dessa semana na news para falar sobre a convergência entre Pix e Open Finance. A partir desse pano de fundo, mostramos por que o arranjo completou meia década com escala inédita, R$ 117 bilhões economizados e agora ensaia um salto global. É aniversário do Pix, mas quem ganha o presente é a eficiência do sistema financeiro brasileiro.

Na Let’s Money de hoje:

  • 💚 A Era do Pix: cinco anos depois, o sistema instantâneo vira infraestrutura nacional com 175 mi de usuários, 50,9% dos pagamentos e trilhos que agora se fundem ao Open Finance;
  • 💸 O Pix que economiza: estudos mostram R$ 117 bi poupados por consumidores e empresas desde 2020, o maior programa de eficiência do país, sem precisar de PEC;
  • 🌏 Pix globalizado: parceria Brasil–Singapura leva o Pix via QR code para 14 carteiras na Ásia, abrindo caminho para a internacionalização com taxas menores que cartão.

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PAYMENTS

O Pix construiu o trilho. Falta o trem do Open Finance.

O Pix fez algo raro no Brasil: deu certo de primeira. O sistema que começou em plena pandemia, em meio a ceticismo técnico e resistência política, tornou-se a espinha dorsal do dinheiro nacional. Em cinco anos, atravessou classes sociais, matou tarifas absurdas, substituiu o dinheiro físico e virou referência global. O que era para ser um “meio de pagamento” virou infraestrutura pública, tão óbvia que o país esqueceu como era viver sem ela.

A escala explica o impacto: 175 milhões de usuários, 85 trilhões de reais liquidados, 71 milhões de pessoas que estavam fora do sistema agora plenamente incluídas. Até quem duvidava da capacidade do Banco Central de construir e operar um produto dessa magnitude hoje reconhece o feito. Como disse Ana Carla Abrão, presidente da Associação Open Finance Brasil, “o Pix virou um bem da sociedade brasileira”. E virou mesmo, de pequenas cidades amazônicas a aplicativos globais, tudo funciona sobre o mesmo trilho instantâneo.

O bug que nunca veio

O Pix nasceu de uma ousadia rara para um regulador: o BC decidiu fazer internamente o que o mercado não conseguia entregar. A disputa dos QR Codes fechados avançava, a interoperabilidade não saía e o setor bancário torcia o nariz para um produto “com marca, manual e experiência obrigatória”. Mesmo assim, o Banco Central apertou o acelerador.

Marcelo Martins, diretor da Iniciador, explica por que funcionou: “o Pix vem em cima da espinha dorsal do TED, mas com uma estrutura nova, sem dependência do legado, isso dá velocidade”. A combinação de robustez antiga com arquitetura moderna impediu que o projeto travasse nos seus primeiros testes. O bug que muitos previram nunca veio, e a adoção explodiu antes que o debate acabasse.

A meta original era chegar a 22% dos pagamentos eletrônicos até 2030. O Pix atingiu 50,9% em 2025. Nenhum sistema de pagamentos do mundo cresceu tão rápido. O Brasil não apenas criou um método novo; criou um novo comportamento financeiro.

Quando o trilho encontrou o motor

A primeira fase foi sobre liquidação. A segunda é sobre inteligência. O Pix virou o trilho; o Open Finance virou o motor. Um fornece velocidade e certeza. O outro, dados, automação e contexto.

“É um plugin em cima do arranjo Pix”, resume Marcelo. Essa combinação inaugurou o Pix Automático, o Pix Inteligente, o Pix Biometria e a iniciação de pagamento dentro de carteiras digitais, uma experiência que ele descreve como “igual ao cartão, só que mais segura”. A segurança, aliás, está no centro: múltiplas camadas antifraude, trava por CPF/CNPJ e validações cruzadas que nenhum outro método no país oferece.

Para Ana Carla, a convergência é inevitável: “o Open Finance potencializa o que o Pix já estruturou. Uma coisa alavanca a outra.”

O resultado é um mercado que abandona a disputa pela “conta principal” e entra na era da “principalidade do canal”. Importa menos onde o dinheiro está e mais por onde ele flui.

O futuro já começou

O impacto invisível do Pix é o mais profundo: ele mudou o comportamento. Reduziu o uso de dinheiro vivo de 43% para 6%. Fez os saques caírem 40%. Economizou R$ 106 bilhões para consumidores e empresas desde 2020. Transformou o informal, reorganizou setores inteiros, facilitou modelos de negócio que eram impossíveis antes da liquidação instantânea.

E, apesar de tudo isso, o Pix ainda está no começo. O pipeline inclui portabilidade de salário, Pix Parcelado, Pix Offline, novas camadas de consentimento, wallets mais inteligentes e integrações nativas com IA. O trilho está pronto. O motor está ativo. O que falta agora é inovação de verdade na ponta.

Marcelo resume o momento com precisão técnica: “a caixa de ferramentas já está aí. Agora é sobre como cada instituição vai usá-la”.

Cinco anos depois, o Pix não só venceu. Ele mudou a regra do jogo, e colocou o Brasil, pela primeira vez, na fronteira do futuro do dinheiro.

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PAYMENTS

Pix economiza mais que imposto

Foto: Reprodução

O Pix virou um programa nacional de eficiência sem precisar de lei, orçamento ou PEC. Segundo o Movimento Brasil Competitivo (MBC), o sistema já gerou R$ 117 bilhões em economia desde 2020, uma redução de custos que nenhum governo ousaria prometer e que o mercado jamais entregaria sozinho. Cada operação que migrou de TED, DOC ou boleto para o Pix tirou, em média, R$ 0,60 de tarifas da conta do usuário. Bilhão por bilhão, o brasileiro descobriu que pagar menos era tão simples quanto tocar na tela.

Em 2025, a economia acumulada já supera a de 2024 inteira. São 178 milhões de usuários, 900 milhões de chaves e metade de todas as transações de pagamento do país fluindo pelo trilho instantâneo. A conta é direta: menos tarifas, menos intermediários, mais liquidação na veia. O Pix virou o maior corte de custo da economia brasileira, e de graça.

O salto que falta

A fotografia ainda tem uma sombra. Nos valores altos, a lógica do sistema financeiro antigo resiste: TEDs movimentaram R$ 43,1 trilhões em 2024, e boletos continuam sendo o canal padrão de grandes empresas. O Pix dominou o varejo, o cotidiano e a base da pirâmide, mas ainda mira o topo, onde estão as margens, os volumes e os fluxos corporativos.

É justamente aí que entram o Pix Parcelado, o Pix em Garantia e a internacionalização. São as três portas que podem desbloquear o próximo salto de eficiência. Se o Pix já cortou R$ 117 bilhões só resolvendo o “baixo valor”, imagine quando atacar o alto valor, o crédito e as fronteiras.

Eficiência com responsabilidade

O desafio agora não é mais adoção: é aprofundamento. A economia dos últimos cinco anos mostra maturidade, mas exige nova engenharia. Para avançar sem perder segurança, o Pix precisa se expandir com transparência, taxas claras, regras padronizadas e trilhos capazes de suportar transações corporativas de grande porte.

Se o Pix foi a maior reforma silenciosa da economia brasileira, o próximo capítulo definirá se ele será apenas rápido ou verdadeiramente completo. A eficiência ganhou escala. Agora precisa ganhar profundidade.

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O Pix ensaia seu salto global

Foto: Adobe Stock

O Pix começou como infraestrutura nacional, mas já flerta com escala internacional. A parceria entre a brasileira PagBrasil e o grupo singapurense Liquid Group conectou o Pix a 14 carteiras digitais asiáticas, incluindo players de China, Japão, Coreia do Sul, Índia e Malásia. É a primeira vez que um sistema de pagamentos brasileiro aparece embutido em ecossistemas estrangeiros sem depender de bandeiras tradicionais.

O modelo funciona como roaming: o usuário escaneia um QR no exterior, a carteira local converte a moeda, a Liquid repassa à PagBrasil e a liquidação acontece no Brasil. A diferença está no custo: taxas entre 1% e 2%, bem abaixo dos 5% a 6% dos cartões internacionais. Com a base da ShopeePay e outras carteiras da região, o alcance potencial passa de 1,4 bilhão de usuários.

A segunda fase da expansão mira estabelecimentos físicos, primeiro no Sudeste Asiático, depois no Japão, previsto para 2026. O desafio real é integrar adquirentes, bancos e regulações cambiais locais, mas o recado é claro: o Pix deixou de ser só um sistema doméstico e começa a se comportar como uma infraestrutura de pagamentos exportável. Se o Pix dominou o Brasil em cinco anos, a próxima década dirá se ele consegue repetir o feito fora de casa.

Entrevista
Nos vemos na próxima edição!

Agora todas às terças.

Abraços,

Equipe Let’s Money

Gabriel Rios

Editor-chefe

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.